sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O motivo.

(Ler ouvindo Te encontro por aí - Aliados 13)



As vezes me perguntam, porque você escreve? Por gosto, também. Mas o principal é porque quando escrevo me sinto conversando com alguém. E esse alguém é sempre você. Que estaria me olhando com aquele seu jeito calmo, de que não espera nada da vida, absorvendo cada palavra minha. Observando meus trejeitos e rindo das minhas caras. Como você não está mais aqui, comigo, eu precisei escrever pra sentir isso de novo. Não sei se cheguei a te dizer, mas você estava errado sobre muitas coisas. Sobre o modo diferente, que conduzo minha vida, sobre meus ideais. Eu sou mesmo, muito esquisita, viu? Eu ponho fé em tudo que é falido, aposto minhas fichas em pessoas e projetos que ninguém daria nem sequer atenção. Eu acredito naquela lenda antiga da fênix. Acredito na ressurreição da alma das pessoas, não aceito a morte, até que ela me encare de frente e me prove que chegou. Acredito que tudo pode vigorar. Tudo. E você sempre achou isso sonhador demais. Lembra de quando eu tentei salvar a formiguinha com uma folhinha de árvore, sentada no chão, porque ela se perdeu da filinha que ia pro formigueiro? Eu tentei te salvar assim também. Estendi minha mão, te pôs no caminho certo. Mas você sempre voltava a se perder. Como se perdeu, e não voltou mais. E pediu pra eu não procurar, e eu não fui. E eu fiquei aqui, e eu chorei. Mas passou, menino. Passou. Você sabe como é que sou né? Eu não sou de sofrer não. Outra coisa que você estava errado. Eu não gosto de fazer ninguém sofrer. Eu já fiz, eu sei que fiz. Assumo isso, mas assumir é diferente de gostar ou de sentir orgulho. Assumir é se apossar da responsabilidade. Se você soubesse, tudo que já me aconteceu... Você entenderia que meu interior é feito bicho, quando se fere. É instintivo. Machuca pra não se machucar. É medo. É revolta. É receio de sofrer mais. Nunca foi querendo não, menino. Minha alma é branca, é clara, é luz. Eu sou transparente. O que passar disso, é boato. É especulação. Eu tenho proteção melhor do que de todos os santos, de todos os deuses, de todas os orixás, eu tenho pessoas que me amam. Tenho família, tenho amigos, tenho até um amor. Mais do que estar viva, menino, eu aprendi a viver. E por isso eu escrevo, pra te dizer que as vezes sinto sua falta. Que lembro do seus olhos, meio claros, meio turvos me olhando de canto. Mas que sou feliz, sim. Que sou completa, sou inteira. Se algum dia precisar, volta, tá? Eu sei que a vida é diferente aí fora, mas não tem colo, não tem paz, não tem piadas velhas nem nosso bom e velho papo. Até lá, vou ficar por aqui, escrevendo, te vendo em detalhes pequenos, nos outros, em mim mesma, as vezes. Te vendo, por aí. Até o dia em que, se Deus quiser, o diabo permitir, ninguém atrapalhar e minha miopia colaborar, eu te veja realmente, andando por aí de novo.

domingo, 23 de outubro de 2011

Comunicado Importante.

(Ler ouvindo Fallin' - Alicia Keys)


Venho por meio desta, te comunicar que ontem admiti que te amo. Não, não estou dizendo que quero você, nem que acredito na gente. Muito menos isso. Só disse que te amo. Num devaneio, aquelas conversas que só se tem com alguém que confiamos muito, eu admiti. Eu falei do tanto de vezes que penso em você durante o dia. Falei das nossas conversas. Contei de você deitado na cama, me ouvindo cantar no telefone, me perguntando de quem eram as músicas, porque como sempre, você não sabia. E me pedindo pra cantar The Beatles ou Legião. Quando eu falei de você, algo em mim mudou. Eu me rendi ao meu sentimento, e deixei de me render a esperança. Eu sei que nunca vai acontecer, eu sei que nunca vai ser real. E ontem eu me despi desse desejo. Ontem eu falei do meu amor e isso me libertou de você. Porque era difícil te enxergar em todas as coisas sozinha. Era difícil te olhar, do jeito que eu te olhei, dizer não pra você e continuar em silêncio. Sendo que alguma coisa aqui dentro berrava que eu precisava cuspir esse amor. Cuspir pra longe. Porque me sufoca. Engasga. Meus textos só são bons quando eu falo de você, quando eu falo do jeito ridículo que você falava, que você agia comigo. Eu comentei ontem, você é uma piada. Porque eu nunca admiti sentir dor, você sabe, então tudo que eu podia fazer com você era rir, era me fazer lembrar de você, como um motivo de riso, porque chorar de verdade, eu nunca consegui. Dizem que quando a gente ama alguém, nossa vida muda, nos tornamos pessoas melhores, mas pra variar comigo tudo sempre foi ao contrário, me tornei uma louca, te trai, fiz besteira atrás de besteira. Tudo porque eu amava a sua risada sem graça, o seu jeito sem graça, sua falta de atitude sem graça. Tudo porque eu amava a graça que o seu sem graça tinha. E eu sei que eu te fiz crescer, te fiz melhor, te fiz alguém. Pela dor, eu sei. Mas eu fiz. E esse mérito é meu. Eu falei da gente no escuro, falei do sentimento, falei do seu olhar, falei do seu beijo, da sua mão, falei de você, mil vezes. Assim como eu falo o dia todo pra mim, quando vendo alguém com um sorriso de deus grego igual o teu, assim como eu sorrio, lembrando de você imitando neném, pedindo cafuné. Eu sei, eu sei, eu sei, todo esse monte de palavras não vai mudar nada, eu vou continuar com a pessoa que me faz feliz, que me faz rir, que me ama, que me quer, que lê tudo que eu escrevo e me acha única. Eu vou continuar sendo a mesma. Egoísta. E você vai continuar sendo o mesmo, fraco. Lindo. Depois de enjoar de ouvir teu nome, quem estava comigo ontem só conseguiu dizer “Isso não é um final pra vocês...”. Nós dois sabemos, mesmo tendo acabado, não teve fim. Nunca vai ter fim. Eu sempre vou lembrar. Você sempre vai lembrar. Mas nunca vai deixar de ser lembrança. E só.
Atenciosamente. 



quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O dia em que você morreu.

(Ler ouvindo Águas de Março - Elis Regina)


Você morreu numa quarta feira. Era um feriado, era pra ser um dia lindo. Pelo menos, eu tentei de toda forma que fosse. Eu nunca desejei sua morte, sabe? Eu sempre te quis bem. E quando você morreu, eu fiquei realmente triste, eu quase chorei. Não chorei porque era um daqueles tipos de tristezas que a gente só fica em silencio, lamentando. E na volta pra casa, eu não conseguia falar. Porque você tinha morrido... Justo você. O cara diferente. O único que eu me arrependi de ter sido má. Porque você quis ser igual os outros? Porque? Eu gostava era da diferença. Gostava de como eu amava o que eu achava diferente, o que eu achava que era diferente. Você não faz meu tipo, sabe? Nunca fez. Você não é exatamente bonito. Tem ali traços atraentes, um sorriso, olhos, mas nada demais. Você passa longe dos homens que me atraem. Passa não, passava, porque enfim, você morreu. Você nem homem é. Não passa de um menino. Que quando eu falava em sentimento, pegava minha perna e me pedia pra te beijar. E eu achava isso lindo. Quando a gente gosta, qualquer babaquice parece bonita, né? E você era todo bonito. Quando eu pedia carinho e você perguntava que tipo de posição eu tava afim. Quando você me deixou sozinha naquele hospital, quando meu avô morreu e me falou ‘sei lá’. Com tantas coisas que você poderia ter dito, você disse 'sei lá'. E eu achei a coisa mais normal do mundo, mesmo sem achar. Quando você podia ter pego a minha mão, mas pôs a sua no bolso e ficou olhando a vitrine ao lado. E eu gostei. Mesmo assim. Acho que você já estava doente, nessa época. Porque eu passei a não me importar tanto. Eu consegui sair com um babaca que se achava legalzão, num dia que você usou seu bordão ‘hoje não dá’ e eu me irritei. Até que num lindo dia, você se matou, bem na minha frente. Não sei exatamente o que senti, se foi vergonha por mim, por você, por nós dois, pelos outros presentes. Você me largou sozinha lá. E dessa vez eu não senti vontade de te pedir pra voltar, como das outras vezes. Dessa vez eu senti vontade de te enterrar. Porque esgotou. Porque cansou. Porque enjoou. Você pode ter a melhor pegada ou o melhor beijo do mundo, mas meu querido, você não me deu nada além disso. E sem isso eu posso viver, mas sem dignidade não. Que um dia você ressuscite na vida de alguém, e se quer um conselho de viúva: mude. Melhore. Ou você sempre vai morrer. Na vida de qualquer um. Porque ninguém é capaz de aguentar isso. Seu arroubos de homem perfeito e depois suas canalhices. Sua falta de educação. Me perdoe, querido, mas eu não consegui. Foi lindo enquanto durou. E pra ter certeza de que não haverão surpresas, minha última memória sua será a do caixão. A última. Você ainda tentou explicar o motivo, você lembra? Mas quem liga? Mortos não falam. Eu nem consegui responder. Com todo o meu amor e dedicação enquanto pude, mas agora: descanse em paz.



sábado, 15 de outubro de 2011

História.

(Ler ouvindo Yellow - Coldplay)


Estávamos nós dois ali, rindo. Juntos, próximos demais. Porque esse lance de distância de respeito, nunca deu certo com a gente. Sempre fomos meio esquisitos, uma paixão incondicional, até demais. Que nunca deu certo, talvez por isso. Uma amizade com amor demais. Ou um amor com amizade demais. Ou nada disso, ou tudo isso e um pouco mais. Fazia tempo que eu não o via, estava mais forte, mais bonito do que da ultima vez. Mais feliz, talvez, mais vivido. Me contou dos seus casos, suas histórias e eu fiquei olhando e me lembrando de quantas vezes já repetimos isso. Como um ritual. Nós dois nos aproximamos, como se fugíssemos do mundo e nos perdemos de novo. Sem despedidas, sem brigas. Apenas partimos. E voltamos a nossas vidas normais. Ele tinha ido passear com o cachorro no parque, e me ligou, pedindo que o acompanhasse. Para qualquer outro, eu diria não, até porque era sábado, eu tinha compromisso uma hora mais tarde, mas pra ele era tudo ao contrário, pra ele eu abri a exceção. E fui. Nos cumprimentamos meio sem jeito, fomos andando, eu brincando com as mãos dele, ele falando sobre mim, perguntando como eu estava. Quando dei por mim, de novo, nós dois estávamos de pernas entrelaçadas na grama, feito dois adolescentes querendo fazer uma cena de filme. Comentei sobre a cena, o labrador ao lado, deitado, nós dois na grama. Começamos a rir e pensar o quanto nossa história era divertida. A gente se beijou e foi como se nunca houvéssemos nos separado. Tudo nele era natural. Era meu. Era nosso. E ele me fazia rir, como sempre. Quando voltávamos eu admiti que sentia ciúmes as vezes e ele se surpreendeu, eu achei graça. Porque esse lance de amor ter início, meio e fim, só fica bonito quando o Fábio Jr. canta, na minha vida esse amor que teve ínicio a dez anos atrás com uma cartinha apaixonada e selinhos escondidos, foi sempre pelo meio dos outros, pelo meio das nossas vidas e nunca teve fim. É a história mais bonita de amor que eu já vi.



segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O murro.

(Ler ouvindo Same mistake - James Blunt)

Esses dias, me peguei seguindo com os olhos as placas que indicavam a saída do estacionamento do shopping e me toquei que é isso que sempre faço, vou embora. É isso que faço de melhor. Abandono. Aí eu me lembrei que essa seria uma das minhas metáforas que só você entenderia e senti aquele murro no peito de novo. Não era, nunca, nunca chegou nem perto de ser o relacionamento dos meus sonhos, foi horrível, foi ridículo. Mas vou te falar, eu tenho sempre esses murros no peito. Quando alguém me fala sobre política, eu me lembro que mudei de candidato no dia da eleição, só pra te contar. E eu podia nem ter votado no seu candidato, só dizer que tinha votado e pronto. Mas não! Eu realmente votei. Sabe que eu ainda sonho com a nossa varanda e o vinho e as piadas? E de novo, o murro no peito. Quando vou atravessar, você rindo do jeito que tenho medo dos carros, o murro. Alguém me conta algo babaca, e dou uma resposta irônica, quero te contar. Murro, murro, murro. Você não era ninguém, não era o mais forte, nem o mais bonito, nem o mais interessante, então porque o murro? E de novo o murro. O seu nome, e o murro. Um carro igual o seu, e o murro. Eu queria tanto que você lesse, e de novo o murro. Você consegue me ver aqui, aquele cara ta me olhando a horas, ele me acha engraçada, ele ta me olhando de um jeito que você nunca olhou. Vem aqui, empurra ele, me olha, por favor. O murro, mil vezes. Aí eu durmo e sonho. Acordo esmurrada. Eu pinto a unha e lembro de você escolhendo a cor. E me dá uma tristeza, de lembrar que nem consegui chorar nossa morte. Eu nem consegui velar nosso fim. Porque nunca existiu fim, nunca existiu começo. Foi tudo coisa da minha cabeça, o murro. Você nunca quis. Murro. Começo a me perguntar, como é possível ver alguém em tantas coisas? Você era todas as coisas.Um milhão de murros e eu ajoelho. Finalmente cai uma lagrima. Peço perdão a Deus por ignorar todas as coisas bonitas que ele fez, enquanto eu só enxergo você. Me levanto novamente, enxugo a lágrima. Pego minha bolsa, preciso sair. Ligo o rádio, uma música dos The Beatles. O murro.