domingo, 6 de novembro de 2011

A outra.

Tudo bem, eu sei que o nome dela todo prateado, combina mais com seu sobrenome de realeza e nada a ver com meu nome italiano de difícil pronuncia. Ok, eu sei que ela vai sair muito melhor nas fotos de casamento, que o silicone dela fica muito melhor dentro de uma lingerie de oncinha e que o cabelo dela...  Se você falar do cabelo dela, você apanha, eu sei que é perfeito, eu sei. O coitado do meu cabelo, que normalmente é seco, ficou oleoso de vergonha, na ultima vez que decidi que ia sofrer um pouco e fui olhar as fotos dela. Mas e daí? É isso que você quer numa mulher? Que o máximo que ela saiba de política é o nome do presidente e que pra ela religião, seja acompanhar a mãe dela na missa no domingo de manhã, pra parecer uma boa filha? É isso? Honestamente, eu esperava bem mais. Sei que as pessoas tem medo de mim, e sei que você também tem. Eu sou feito rio turvo. Sou bonita a primeira vista, mas quando se chega de perto, amedronta. Mas chega de falar de mim, vamos falar dela que é muito mais interessante! Um segredo que eu preciso te contar, a sua Barbie não é misteriosa, os silêncios dela não são porque ela deseja que você fique instigado em conhece-la, em decifra-la. Os silêncios dela refletem o que ela é por dentro: Vazia. Ela concorda com você, porque não tem opinião. Ela ri das suas piadas, mas você sabe que ela não entendeu. Ela prefere muito mais estar com vinte amigos do que você ao lado, pra não ter que mostrar o quanto ela não tem o que dizer. Ela pode ser ninja na cama, pode ter um sorriso perfeito, pago em 24 prestações, pode se vestir só com Louis Vitton e Armani. Mas conteúdo, meu amor, ela não compra e ela não tem. Se o que você procura é uma mulher assim, está com um exemplar perfeito. Mas eu sei que quando oferecer pra ela, uma sessão pipoca com filme Cult e ela te olhar com cara de desdém, louca para experimentar o vestido novo e querendo cair na noite, você vai lembrar... Vai lembrar da menina que vivia de sapatilha, chinelo, mas quando colocava salto virava uma mulher ímpar. A menina que via futebol com você, sentados no chão da sala, te fazendo carinho na nuca e discutindo os lances do jogo. Aquela, que chorou de mansinho quando você disse que estava em outra, que tinha encontrado alguém. E isso já faz um bom tempo né? Quando a gente se reencontrou, eu vi nos seus olhos. Eu sei, eu vi. Dá saudade? Pena. Enquanto eu te ensinei o que era fotografia, você me obrigou a ver fotos suas com ela, nas baladas que dizia que odiava. Enquanto eu te ensinei a se vestir, tive que te ver com aquele tênis ridículo, que eu aposto que ela adora. Enquanto eu te ensinei a falar, agora já não adianta, porque eu sei que ela ouve. O tempo passou, meu amor. E não pense que eu fiquei lá, parada, chorando... Não. Eu cresci, eu aprendi, eu mudei. Hoje eu sou outra. Depois de tanto lutar pra ver o seu sorriso, eu aprendi a valorizar o meu.



Ser sozinha.



                                     (Ler ouvindo Beautiful - Christina Aguilera)

De todas as minhas características, a mais forte, a mais marcante, a mais triste e mais honesta com certeza é a de ser sozinha. Sou uma pessoa sozinha demais. Por natureza,  por instinto. Eu era sozinha, quando criança. Sofria sozinha sentada no banheiro sem saber por que sofria. Quando rezava e pedia pra um Deus que eu não sabia quem era, mas sabia que era o único devia me ouvir. Sozinha quando pedia um amigo ao Papai Noel e a carta voltava com a letra do meu pai, exigindo que pedisse um presente. Eu era sozinha quando namorava homens lindos, sendo uma menina comum, mas que sabia conversar e seduzir. Eu era sozinha quando tinha raiva de todo mundo, ia no banheiro e ficava picotando meu cabelo, que sempre foi meio enrolado, então ninguém nunca reparou. Eu sempre fui a menina do canto. A solidão sempre caiu bem à mim. Combina com meus olhos de ressaca, “olhos de quem já sofreu e cansou”, me disse uma vez um daqueles seguidores de Bob Marley andarilhos, que a gente encontra pelas esquinas da vida. A solidão combina até com meu tamanho, pequena, frágil. A solidão cabe tão bem em meu corpo, que eu não me vejo sem ela. Ontem a noite, eu sai sozinha, porque não pense que ser sozinho é nunca querer ver ninguém... Precisava ver as pessoas, sem estar com elas. Simplesmente porque assim me ponho exatamente onde eu quero estar. Perto de todos, mas junto de ninguém. Como sempre foi, a menina do cantinho das fotos, do sorriso calmo. Mas sempre existiu em mim uma diferença gritante, que berra, que joga água fria no rosto de quem me vê. Eu tenho luz. Uma luz fraca, clara. Mas é o suficiente pra me iluminar, pra me proteger da imensidão, dessa escuridão, do vácuo que é a alma das pessoas. Eu não me perco, rapaz, eu nunca me perco. Meu rumo é um só, minha caminhada é estreita, é lenta, mas é contínua. Eu caminho pra dentro de mim. Quem vem comigo, eu não levo do lado de fora, eu levo por dentro, eu ponho no colo e carrego no espírito. Mas só vai quem quer, quem insistir, quem não tiver medo da luz. A luz assusta, rapaz. A luz te faz ver demais, e depois que a gente vê, a escuridão nunca mais é mesma. Quando a gente vê o semblante dos monstros, o medo não existe mais. Nunca se deixe levar, nunca acredite demais, nunca se deixe abater. Ser sozinho não é ruim, não. Ser sozinho é difícil, mas vale a pena. Quando você se torna amigo de si mesmo, você não é mais sozinho, você tem a sua companhia. A única que nunca vai te abandonar, se ame por dentro, por fora, pelos cantos, pelas esquinas, pelas frestas. Se ame por todos os jeitos, por todas vírgulas que existirem. O amor é um sentimento tão solitário, tão egoísta. A gente sempre acha que a pessoa deve ser exatamente o que somos, o que queremos. Não é mais inteligente então se apaixonar por si? Narcisismo talvez. Ou só mais um jeito de deixar de sofrer olhando pra esse mundo que daqui, rapaz, só vai pra pior.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A sua foto.

(
(Ler ouvindo Sua vez - Fatale)


E mais uma vez, eu abri uma página sua de uma rede social e fiquei olhando sua foto. Como eu já sorri olhando praquilo, você não tem idéia. Mas das ultimas vezes, infelizmente não era sorrindo que eu olhava, era com desanimo, com saudade e mágoa misturadas. Porque você tinha que morrer? Porque você tinha que matar tudo que eu sentia? Me obrigar a morrer também. Me obrigar a fingir estar viva pra todo mundo. Me obrigar a não chorar, quando tive vontade de chorar. Vontade de te esmurrar, te dizer que você é um idiota, um babaca, um cretino, um fraco, nunca passou disso. Nunca uma piada sua foi engraçada, nunca você me surpreendeu. Nunca. Mas eu não consigo deixar de pensar em você, a cada dia, a cada ato meu. E quando eu procuro outras pessoas, eu procuro imaginando você me vendo. E tendo ódio de mim. Porque eu quero que sinta ódio. Porque ódio significa alguma coisa, e é melhor que indiferença. Você que já foi tudo, já foi minha esperança, foi meu futuro imaginado, hoje não é nada. Não passa de uma foto numa rede social. Se eu vivo bem sem você, porque eu continuo te olhando? Porque eu sempre volto aqui? Porque eu ouço musicas que falam de tristeza? Por quê? Você não vale isso. Mas eu faço. Eu continuo fazendo. Como uma cerimônia de luto, eu sigo a risca. Mas acontece que você não morreu de verdade, do jeito que eu preferia que morresse. Você está ai vivo, vivendo sua vida, fazendo suas coisas, feliz, tranqüilo, sem sentir minha falta, sem olhar minha foto em rede social. Porque eu não consigo? Porque você não podia ser alguém? Eu esperei muito de você? Não. Eu não esperei nada, eu entendi tudo, eu entendia o que ninguém entenderia. Eu respeitei. Eu fiz como você quis. Tudo. Eu me anulei. Eu deixei de me amar, pra todo meu amor ser só seu. Eu voltei atrás. Eu chorei, eu pedi desculpas, eu agüentei besteiras. Agüentei tudo. Ajuntando do chão, migalhas do seu carinho, migalhas do seu amor. Do seu jeito explosivo e calmo. Um dia me amando como se a terra fosse acabar depois da meia noite. No outro dia um desconhecido me pedindo pra tratá-lo como qualquer um, por favor. Você é meu personagem favorito. O dono de todos os meus textos, de todas as minhas histórias. O dono da curvinha das minhas costas. E eu tenho que dizer isso agora, só pra uma foto numa rede social. Porque você morreu na minha vida. Você pediu demissão, seu cargo era o de presidente, era membro honorário do conselho, tinha tapete vermelho e eu me vestiria até de secretária se te agradasse. E você pediu demissão, sem aviso prévio nem nada. Me diz agora? Como viver bem? Como sobreviver, sem essa ponta de angustia? Eu sou feliz, cara. Eu sou feliz demais. Mas eu sou infeliz demais, quando penso em você. Quando penso no que poderia ser, no que poderia ter sido. Eu sei que não dá. Eu nem quero que dê. Não quero mais. Mas não sei o que fazer com esse nó. Vai passar né? Eu sei. Com o tempo eu não vou mais olhar sua foto, nem sofrer, nem pensar o quanto é infeliz tudo o que aconteceu. Tomara que passe logo. Porque a vontade de te ressuscitar as vezes, me domina.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Crianças.

(Ler ouvindo Um Dia Especial - Cidadão Quem)





Estive me lembrando ontem, de quando te conheci, criança. Lembra? No meio do seu almoço, eu na minha correria, decidi que seria o dia, e foi. Foi lindo. Foi natural, foi nosso. Seu riso incontido, misturado com meu nervosismo, minha vontade de estar ali, com nosso medo. Medo dos outros, até hoje não entendo porque tivemos tanto medo. Medo que se transformou em força, pra não nos separar. Medo que virou ânsia, que virou nada. E nada virou nada, contra a gente. Vou te dizer, criança, às vezes não sei explicar quem nós somos, porque somos, como somos. Sei que somos, e somos muito. Somos tudo, somos a soma, a divisão e o resultado. Somos uma coisa só. Uma mistura, um bem bolado, você diria com seu jeito incerto, descontraído. Uma quebra de regras, a exceção. Nós somos alfa e ômega, eu diria pra te fazer rir. Eu sempre te falei, que a vida é um jogo, é uma surpresa por esquina, cabe a nós aprender a jogar, aprender a blefar contra o sistema, contra nós mesmos, contra a vida. E não é que você acabou me ensinando isso mesmo, criança? Não é que acabamos sendo dois magos e dois aprendizes? A vida tem dessas coisas. Aí vem você e me pergunta na sua angústia, como é que eu saio disso? E eu olho pra você e te digo que também não sei, mas que eu tiraria com minhas mãos a dor, se pudesse. E a gente se encontra, se perde, se acha, se relaxa, se priva, se livra, se engana, se encaixa, se ama. Entre os outros, entre nós, entre tudo, entretanto. Como se as duas almas tivessem vindo do mesmo lugar, tivessem sido feitas para ficar juntas, como se uma conexão maior as prendesse. Porque desde o primeiro abraço, parece que as almas também se abraçaram e os corpos soltaram, mas as almas não. Por isso, te prezo tanto criança, te prezo mais que tanto. Por isso não te solto. Enquanto existirem nossos risos juntos, criança, pode ter certeza, eu continuo escrevendo.