segunda-feira, 26 de março de 2012

Conselhos (Parte II)



(Ler ouvindo Maria Rita - O que é o amor?)

Olá classe! Sentiram saudade? Ok, não precisam responder. Vamos ao que interessa. Hoje nos vamos falar sobre o bicho de sete cabeças. O monstro do lago Ness. O terrível, temível, horripilante e assustador A-M-O-R. Anotem com a canetinha colorida, no título: O que é o amor? O amor, minhas lindas, nada mais é do que o seu amor próprio refletido em alguém. Amor significa espelho. Simples assim. Grifem isso. Pra amar alguém, é preciso primeiro se amar. Aí vocês vêm pra mim chorando, descabeladas, com a roupa suja de sorvete da noite de fossa anterior gemendo que amam o fulano mais do que tudo e que ele é a vida de vocês. Acorda pra vida, minha filha! Acorda pra realidade, isso aqui não é Matrix, muito menos conto de fadas. Pra amar alguém, é necessário que você se goste em primeiro lugar. E se está faltando amor próprio, já descarta a possibilidade de amor. Pronto, risca da lista. Pode ser paixão, atração, desespero, carência, loucura, pode ser tudo. Tudo. Mas amor não é. Agora uma de vocês vai pensar: “Como ela pode ter certeza que não é amor?”. Porque é óbvio. Porque o amor foi feito pra fazer bem pras pessoas, pra unir, pra completar. “Amor” que destrói, que diminui, que não acrescenta, tem outro nome. E tem outro final também. Isso não quer dizer que amor seja eterno, seja até o final da vida, seja até ficar velhinho e de mãozinha dada, nada disso! Amor é amor. Amor é hoje. Amor é o reflexo de como você se sente hoje. Amar alguém pelo que a pessoa é e pelo que ela é, na sua vida. As pessoas mudam. Acreditar em amor eterno é se prender em rotina. Amor eterno é o mesmo que ler Shakespeare. È lindo, mas é ficção. Amor é todo dia. É rotina. É quebra de rotina. Amor é a paz de espírito que você encontra perto da pessoa. Não importa se é um relacionamento longo, curto, distante, grudado, calmo, violento ou gay. O importante é a paz. Esse papo de pessoa ideal, pessoa que te combina, metade da laranja, simpatia e amarração é perda de tempo. È atraso. Vai cuidar de você, vai ser feliz. Amor próprio é o amor mais bonito. Quando o seu amor próprio encontrar abrigo em outro peito, aí você pode chamar de Amor. Com letra maiúscula. Pode falar com a boca cheia, todas as letras. Porque quando é assim, é concreto. Não é amorzinho idealizado, nem de infância, nem de verão, nem platônico. É real. E não tem problema se acabar amanhã, ou se durar cinqüenta anos. Não vai ter morte. Amor assim, é um marco na vida. E a gente aceita ele, do jeito que for. Sem se prender a datas, promessas, compromissos e convenções. Com a intensidade e duração que for necessário. Agora vamos parar de mistificar tanto o amor, vamos parar de por tanta lenha num fogo tão baixo. Não tem mistério, não tem segredo. Amor é o que te fizer bem. E não importa se é amor próprio, amor a profissão, amor a solidão, amor ao próximo, amor ao filho, amor a vida. O importante é ter amor. Saudável. Chega de colocar o amor num pedestal, num alcance tão longe, o amor mora ao lado, mora dentro, mora junto com a gente. Chega de dar tanto valor a um sentimento que não se força, que não se pede e não se adquire tentando. Amor só acontece, quando a gente cansa de procurar o homem dos sonhos e decide seguir aquele clichê, de toda mulher triste “Vou cuidar de mim”. O amor é cuidar de si, na outra pessoa. Porque cuidando dela, você cuida de você. Por hoje é só, meninas. Por favor, pensem nisso. Chega de chamar qualquer paixonite de show da Ivete de amor. Quem ama loucamente, não ama! Grifem isso com caneta colorida. Se cuidem, pensem, reflitam e amem, mulheres. Amem a si mesmas, amem os outros.
E amém.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Encontro.



(Ler ouvindo Caetano Veloso - Você não me ensinou a te esquecer)



Foi numa manhã de sábado. Eu de pijama, você vestindo a esperança nos olhos. A única coisa que eu queria era que aquilo acabasse logo. Eu menti, ok, menti sim, menti mesmo. Eu não estava afim, era brincadeira, não me olha assim - eu pedi sem te olhar. Quando olhei, vi o mundo nos seus olhos. O mundo que eu queria, o mundo que eu fingia que não me importava, quando te deixava sozinho e voltava pra minha vida, sem me preocupar se você ficava bem. Você procurava nos meus olhos, a menina que tinha te dado tudo, que tinha te ensinado o beabá. A menina que te transformou em homem, e agora se recusava assumir o lugar ao seu lado. Eu procurava uma saída. Uma fuga. Um jeito de não te matar, mas de não morrer. A cruz, a espada. O peso de todo aquele tempo arrastado, do sentimento, a vontade de ficar perto e fugir ao mesmo tempo. Eu não posso ficar, menino. Eu menti, eu te enganei. Eu soluçava. Aquela menina não existe, não tem magia, a princesa na verdade era a bruxa. Foi tudo mentirinha. O salgado das lágrimas, na boca. Tenta entender, eu não devia ter te deixado vir aqui. Vai embora, volta pro que é teu. Você é minha – e uma lágrima brotou no teu olho. Não faz isso comigo, eu esqueço tudo, a gente esquece, começa hoje. Vai ser novo, vai ser bom, eu quero saber quem é você. Eu não posso amar alguém que eu não conheço, então eu preciso conhecer, porque eu te amo. Naquela hora, as lágrimas tomaram meus olhos e eu não te enxerguei chegando mais perto, quando eu vi, os braços de salva-vidas já estavam em volta de mim e eu não podia fugir. Eu desabei. Fechei os olhos e lembrei de tudo. Quando ligava trêmula de madrugada. O que aconteceu? Nada, só conversa comigo, faz uma piada, me conta alguma coisa? E você ria. E contava. Piadas péssimas. E me fazia rir com o jeito que se desculpava pelas piadas péssimas.Você tentando me conquistar, oferecendo rios e oceanos. Os sonhos que você dizia que tinha, com nós dois casados só pra poder tocar no assunto. Ali eu vi que não podia fugir. A teia era pra você, mas quem se prendeu fui eu. Quem se perdeu fui eu. Uma última tentativa, eu vou embora, eu não posso ficar, um empurrão, a menina sem sentimento. Te olhei nos olhos e de novo, você venceu. Você ganhou. Você me tem. Você vê isso? Quanto mais fuga, mais prisão. Você me beijou e me puxou pro seu colo. Vem cá, menininha teimosa, para de tentar escapar, seu lugar é aqui, comigo. Seu lugar sou eu. Ali você jurou que era pra sempre, eu concordei. Não foi. Na prática, a teoria sumiu. Você fraco demais, eu dona demais. Mas foi bom. Foi a sensação de impotência diante de alguém tão simples, que me fascinou. Você continua simples, eu continuo fascinada. Mas não deu. Era muito fogo e pouca lenha.
Não era encontro, era desencontro. Era o fim disfarçado de começo.