quarta-feira, 30 de abril de 2014

O dia depois do fim.

Ler ouvindo Ainda não passou.


Hoje quando acordei me perguntei se você teria colocado seu celular pra despertar. Aí  lembrei que isso não importa mais, porque você já não faz parte da minha vida e não deveria fazer parte dos meus pensamentos. Tomei meu café amargo e comi umas fatias de pão. Tomei mais café. Troquei de roupa duas vezes, porque a previsão do tempo disse que iria chover. Lembrei de você dizendo que não acreditava na previsão do tempo e achei engraçado pensar nisso, porque você acreditava em cartomantes. Fiquei triste por só ter uma xícara pra lavar. Arrumei tudo com pressa e sai pra trabalhar. No caminho, encontrei alguns conhecidos e sorri, como se nada tivesse acontecido. As vezes eu tenho a impressão de que as pessoas me olham com pena ou como se me perguntassem com os olhos como estou sobrevivendo. Acho que disfarcei bem. No trabalho foi tudo normal. O chefe perguntou das olheiras e disse que estou trabalhando num novo projeto. Tive novas idéias, almocei com uma moça do segundo andar. O rapaz da mesa do lado reparou que eu estava chorando a tarde, mas não disse nada. Na volta pra casa, as coisas foram piores. Perdi a chave na bolsa e não pude te ligar pra perguntar onde você estava, se iria demorar. Você não iria chegar. Você nem tem mais a cópia da minha chave. Achei a chave na bolsa e entrei em casa. Fui tomar banho e o chuveiro não esquentava. Bati com o rodo nele e funcionou. Esqueci de pegar a toalha e molhei a casa toda. Sentei no chão da lavanderia e chorei, porque você não iria reclamar da casa molhada. Você nem iria saber que ensopei o corredor inteiro e que espanquei o chuveiro pra água ficar quente. Eu preciso que essa porra de dor diminua um pouco. É tão estranho constatar que não saber dessas coisas parece não fazer diferença pra você. Ontem eu não jantei. E daí? Você tem outra vida, agora. Pegou nossos planos e jogou no lixo. Disse que era uma loucura tudo isso, que estávamos nos precipitando. É verdade. Eu me precipitei. O desamor tem gosto de comida velha, é rançoso. Você era mesmo tudo aquilo que as pessoas diziam. Meu coração tá dilacerado. E você, onde deve estar agora? Por aí. Com a sua vida vazia e seu copo cheio. Até quando? Eu te dei meu mundo. A cópia da chave e a fotografia da estante. Mas você foi embora. Eu aprendi a beber água, hoje bebi umas cinco vezes, talvez mais. Eu também comprei aquele DVD que você queria. Estava em promoção na internet. Comecei a escrever um livro. Aquele rapaz da academia me ligou e eu atendi. Trocamos algumas palavras, mas a verdade é que acho ele um saco. Acho tudo um grande saco. A vida é um porre, sem você. O desamor é uma ressaca eterna. E essa é uma teoria muito boa, porque me leva a pensar que estava bêbada ao te amar. O efeito é passageiro. Pra você passou tão rápido. Eu sempre fui fraca pro álcool. Sempre fui fraca, por você. Parei de tomar calmantes, mas minha alergia continua uma droga. Tá legal, eu sei que isso não importa, mas me deixa escrever, tá? Me deixa fingir que você vai ler e entender cada linha. Me deixa fingir que o tempo não passou. É estranho não ter você de platéia pra me observar cozinhar. 
Voltar pra casa é uma merda, cara. Mas tudo bem, eu vou dormir. 
Você tirou a sua máscara e agora aqui todo dia é quarta de cinzas.









quinta-feira, 24 de abril de 2014

O cara que...



E mais uma vez, depois de tanto tempo, eu ouço o meu interfone tocar e sei que é você. Eu sempre sei quando é. Você aperta umas mil vezes aquele botãozinho e não se dá um tempo nem pra escutar os meus gritos dizendo o quanto você é chato. O que aliás, você deveria saber, ou já sabe.
Eu abro a porta e fico atenta ouvindo os seus passos ansiosos subindo a minha escada, e alguns segundos depois, lá está você. O meu cara. O cara que não importa quantas vezes vá embora, sempre volta tocar o meu interfone, o cara que sempre pula os meus degraus de dois em dois pra me ver depressa. O cara que...

Você me dá um beijinho de bochecha com gosto de quem está se controlando pra não me agarrar bem ali mesmo, na entrada, e senta no meu sofá com cara de quem quer beijar a minha boca. Eu fecho a porta e fico encabulada ao pensar em uma forma de sentar do seu lado depois de tanto tempo, até que desisto de pensar e sento.

Um “E aí, como vai?" (sinto sua falta), outros “E a escola? O trabalho? As novidades?" (como você está se virando sem mim?) perdidos no meio de tantos outros "a culpa foi sua, não vou me render", em pensamento, e quando vejo, você já está tocando a minha nuca, e eu já estou com os dedos cravados no seu cabelo, você já se rendeu, e eu me rendo à sua rendição. As vezes, a única forma de vencer, é se rendendo, e disso a gente sabe bem.

Você encosta seus lábios nos meus com a suavidade de alguém que depois de horas cansativas de viagem, finalmente volta pra casa, e descobre que seu lar é o melhor lugar do mundo. Enquanto os meus braços envolvem o seu pescoço, e eu ouço o seu silencio dizer que não quer mais me perder de vista. Eu mando a saudade ir pescar e preencho com você todo o vazio que ficou. Porque aqui é o seu lugar, você sabe. Você é o meu cara, o cara que vai, mas sempre volta, o cara que parte só pra ter certeza que não se encaixa em nenhum outro lugar do mundo a não ser no meu abraço. O cara que...

Você deita no meu colo, e me conta todos os seus segredos, medos, desejos. Você deposita em mim todos os seus sonhos, suas utopias, suas loucuras, enquanto tudo o que eu quero é ficar quietinha te ouvindo e te fazendo um cafuné. Me entrego pra você sem máscaras e te aceito sem fantasias.

E a gente ama com pureza, e eu te espero com certeza, e você deixa a luz acesa, como sinal que vai voltar. E eu te vejo indo embora, e agonizo na demora, do tictac que não zune. Mas eu sei que você vem, ah sei, ah tem, tem que vir, mesmo que seja tarde, mesmo que pareça o fim. 
Porque eu posso ser nômade, mas você mora em mim.
O cara que... Enfim.



Com amor, GC.








terça-feira, 22 de abril de 2014

Apaixonar.

Ler ouvindo Yellow.


Ontem de manhã eu me apaixonei por você. Foi entre um segundo e outro, enquanto você roubava minha coberta e dizia com voz manhosa que não queria acordar. Depois aconteceu de novo, quando eu te olhei de longe, segurando seu cigarro como quem segura algo de muito valor. Odeio seus cigarros, mas você fuma de um jeito tão sensual, sabe? É quase cabalístico. Um ritual de tranquilidade: você acende o cigarro, olha em volta, encosta ou agacha num canto, segura o cigarro na ponta dos dedos, traga, solta a fumaça como se fosse natural aquilo tudo. Como se fosse um gesto que não exigisse qualquer movimento mecânico. Como o cigarro fosse uma parte tua. Você é tão bonito. Eu me apaixonei por você, naquele dia em que me disse no meio da madrugada que não se lembrava mais como era a vida, antes de mim. Você não sabe recitar poemas e nem canta pra mim, quando te peço. Você não se parece em nada com o homem que sonhei pra mim. Mas eu me apaixono por você, quase sempre. Eu sou apaixonada pelo seu jeito totalmente sem jeito, de tentar me fazer carinho e acabar me machucando por ser grosseiro demais. Mas também te odeio quase todos os dias, por uns segundos. Eu fico com uma vontade danada de te bater na cara e te mandar parar de ser assim, tão chato. Mas sempre passa. Eu me apaixonei por você, na primeira vez que me pediu baixinho, em casamento. Dizendo que não conseguiria mais me deixar em ir embora e pra gente se casar logo, afinal de contas um amor assim não pode ser desperdiçado. Eu me apaixono pelos teus olhos, sempre. Aquele jeito bonito que você me olha, quando acha não estou te olhando. Eu me apaixono por você, mesmo quando acho que não vai dar mais nada certo. Ontem a noite naquela igreja, eu me apaixonei por você. Eu me lembrei de tantas as vezes em que você me pegou no colo e ignorou meus erros, que são tantos também. Eu agradeci a Deus mil vezes por você existir. Justo eu, que sempre tive medo de me apaixonar. Justo eu, que sempre vivi de meias paixões e sentimentos pela metade. Eu sempre vivi na superfície. Mas aí veio você e me fez afundar até não poder mais, você me fez sentir um aperto tão grande no peito que eu não tive escolha a não ser te pedir: "Fica...". Por favor, fica.  Fica, que eu perco meus medos. E a gente se encaixa um no colo do outro, falando sobre qualquer coisa do dia-a-dia. Eu acredito no amor, assim.
Fica, que eu te prometo: eu me apaixono todos os dias.










quarta-feira, 16 de abril de 2014

Um pseudo amor.

Ler ouvindo O mundo é um moinho.




Comprei um livro do Bukowski, pensando em você. Que diferença faz? Nenhuma. Mas comprei. Assisti aquele filme que você disse que era bom. Era bom mesmo. Ainda gosto de ouvir as músicas que você me apresentou. Quando ouço aquela que fala sobre procurar estrelas distraídas, me sinto sentada ao seu lado. Chego a sentir seu cheiro, vê se pode? Não pode. As vezes, saio pra andar sozinha te imitando. As vezes, acho sua voz em vídeos antigos. Mas você não sabe nada disso, porque não está aqui pra ver meu riso baixo, quando alguém fala com o teu sotaque. Você me perguntou outro dia, o porquê não te amo mais. Eu não soube o que dizer. O amor ainda tá aqui. O amor mora aí. Mas nosso amor não se casa, cê me entende? Nosso amor tem frequência oposta. Acho que amor de poeta tem que ser assim, inalcançável. A rima fica mais bonita. Nosso amor nasceu pra ser verso, não vício. Não quero ser mais uma, pra você. Prefiro assim, ser seu talvez. Ser sua lembrança bonita, seu sorriso de canto de boca. Prefiro viver a esperança de que tivesse dado certo, do que a certeza de ter dado errado. Prefiro gozar o amor que não existe. Eu prefiro você e preferiria você, mil vezes. Em multidões, aqui ou na China. E você me daria o mundo. Que mundo? Eu sei lá, tanto faz. Você daria. Acho que você já deu. Essa coisa bonita que me brota no peito, quando penso que você existe. E compro livros, assisto filmes, saio sozinha andar por aí. E faço de mim, o melhor que posso ser. Porque sei que é isso que você esperaria, é isso que você me mandaria fazer. E sigo a risca, vivendo nossa história a dois sozinha. Por outros corpos, outras vidas. E sei que vive o mesmo, em outras bocas e outras madrugadas. Mas quem se importa, amor? Que importa o que vivemos lá fora, se o que temos é aqui dentro? Não tem nada mais poético que um pseudo amor, eu sei. Não existe nada mais inspirador. Fale de mim, nos seus versos. Deixe seu mundo ter minha cor. E que o mundo lá fora exploda, que o amor real vire poeira. Vamos viver a poesia.
Que amor é esse capaz de ignorar tempo e espaço? 
Eu não sei. 
Mentira, bobagem. 
Amor.









segunda-feira, 14 de abril de 2014

Carta para um babaca.




Olá, como vai você? 
Pergunto por educação, mas sinceramente nem precisa responder. Sabe, eu pensei em não escrever, mas depois pensei bem e achei que você merecia estas palavras, ou pelo menos, eu merecia dizê-las a você. Não que tudo o que eu disser nas próximas linhas vão fazer algum sentido pra sua mente perturbada, ou mesmo, a pretensão de mudar alguma coisa em nossa atual relação. De fato, você não entende bem o que vem do externo e insiste em viver sob suas convicções tortas e irreais. Pois bem, escrevo para te dizer que você é um babaca. Isso mesmo, um completo e grandioso babaca. E antes de se espantar com a sonoridade estrondosa desta palavra, acredite tenho motivos de sobra para te nomear como um grandiosíssimo filho da puta, ou mesmo um idiotinha sem noção mode on, mas babaca te veste melhor sem precisar fazer nenhum ajuste.

Entenda, eu estive bem aqui na sua frente por um bom tempo. Estive te cuidando, te preservando e adorando até mesmo os seus defeitos mais banais. Te defendi para desconhecidos e projetei qualidades maravilhosas que nem você sabia que existiam. Mas e você!? Você foi incapaz de me olhar como deveria, ou mesmo, reconhecer que tudo o que eu lhe tive foi amor. Simples, real e intenso. Amor verdadeiro, como a chuva inesperada da tarde em que você esqueceu o guarda chuva em casa e contou comigo para uma carona inesperada, aquela em que resultou na melhor noite de nossas vidas. Eu sei, faz tempo. Mas dizer por aí que nunca tivemos nada só para projetar sob si mesmo uma imagem que não te compõe!? Não e não! Não aceito. Em partes porque infelizmente você está na minha história, mas também porque tenho provas, retratos e amigos que comprovam nosso caso, nosso lance, nosso enlace e sua total falta de noção quando estávamos juntos. E ainda que “eu queira provar pra todo mundo, que eu não preciso provar nada pra ninguém”, fiz questão de te escrever esta carta. Para te situar, para te ponderar, porque de algum modo estamos infelizmente ligados.

Por isso não pense, não argumente, você não tem culhão ou moral para contestar o título que eu te dou de presente. Apenas degluta este meu singelo ato que retrata minha total falta de vontade e cansaço de até ser seu amigo. E longe da melancolia que sinto entre os copos de cerveja que bebo ou mesmo das minhas lembranças esquisitas de ainda te desejar o bem. Por favor aceite, hoje você não passa de uma lembrança triste de um tempo que eu desperdicei. Tudo bem. Quase nada na vida é em vão, e acima de qualquer idiotice que eu já tenha cometido, você foi o único babaca, o mais insano que eu já tive no coração. Mas graças a Deus, hoje não se vale mais de qualidades que eu te emprestei, que são minhas e que por direito retiro de você. 
Feliz do homem que reconhece suas histórias e seu erros, e acima de tudo aprende a não repeti-los. Sem crise, sigamos. 


Até nenhum dia.











quarta-feira, 9 de abril de 2014

Os 22.




Começar é difícil. 
Começar esse texto está difícil pra caramba.
To cheia de frases curtas e versos sem rima. Já tô com 22. Não sou mais menina faz tempo, apesar da minha voz fraca e do meu sorriso bobo não dar muita convicção a esse fato. Já tomei muito tapa na cara, da vida. Desde pequena, sabe? Fui passada pra trás incontáveis vezes, a vida gritou na minha cara desde menina que esse negócio de sobreviver é complicado. Sobrevivi. E tive que começar muitas vezes. Novos ciclos, novos planos. Novos sonhos. Eu tenho um lado sentimental demais, normalmente ele me trai. Acabo dividida entre o que preciso e o que quero fazer. Aprendi escolher a precisão. Não dá pra ser sempre amor, as vezes é preciso ser força. É preciso ser razão. É preciso saber nadar pra poder salvar outra pessoa do afogamento. Eu vivia me afogando, junto. Vivia náufraga. Costumo pensar que o destino cobra o preço de quem nos rouba, por isso nunca guardei mágoas. Tenho algumas dores, sim. Escondidinhas, no cantinho do peito. Quem não tem? Mas são inofensivas, são só lembranças. Acho que a vida é muita cara, pra gente gastar com pequenices. Escrevo de graça, que é pra espalhar coisas boas. Feito aquelas sementes que a gente sopra no vento, esperando que alguma delas caia em terreno fértil. Não admito tudo que existe, mas aceito quase tudo. Respeito. Isso sempre tive em mim, acho essencial. Quem sou eu pra dizer que o outro é pior? Ninguém. Sou só mais alguém, que acerta as vezes, que erra quase sempre. Aprendi a conjugar o verbo amar na primeira pessoa do singular. Eu amo. Consegui entender que amor, a gente só adquire depois de batalhar muito. A gente só consegue amar, depois de entender que o amor é mais do que sentir afeto, mais do que uns beijos bons, uns fins de semana acompanhado. O amor é um troféu, que a gente tem que lutar todo dia. Eu já tentei encontrar minha felicidade no peito do outros, achando que meu sorriso moraria lá. Que boba. Demorei pra ver que só meu peito seria capaz de me guardar. Hoje em dia, sou livre. E não falo de de relacionamentos ou de uma liberdade forçada, regada a álcool e noites pelas ruas. Falo de liberdade aqui dentro. Meu peito é livre, meu coração é livre. Tirei de mim todo cadeado e corrente que me segurava. Hoje sei amar, com verdade. Sei sorrir, sem medo. Sou livre pra escolher meus destinos, meus sonhos. Aprendi que felicidade é hoje, que amanhã é muito tarde. As coisas boas são maiores e melhores do que as ruins. 
Sem armadura, hoje eu sei que meus 22 valem a pena. 
Afinal, nada é tão definitivo, só a mudança.








quinta-feira, 3 de abril de 2014

O dia que o amor se foi.


No dia que o amor se foi tinha chuva e vento frio. No dia que o amor se foi tinha pressa e demora. No dia que o amor se foi, anoiteceu.
O amor se foi e levou toda a coleção dos seus discos velhos entulhados no canto da nossa estante empoeirada. Inclusive aquele que sempre estava tocando quando eu chegava em casa, me esperando e convidando para tirar os sapatos e dançar. O amor levou o pôster daquela sua banda esquisita que assombrava o canto do nosso quarto. Levou a escova de dente que ficava do lado da minha, dentro do espelho do banheiro. O amor levou cada peça de roupa sua que eu guardava com tanto carinho. Até mesmo aquele moletom cor de nada que já era mais meu do que seu, se foi também. O amor levou cinco fronhas azuis e um edredom estampado de folhas. Levou aquele tapete feio que não combinava com a cortina e uns três porta retratos. O amor levou metade dos pratos da cozinha, e minha fome também. Levou um travesseiro, e o meu sono. Levou minha dança de quem não sabe dançar. Meu riso desengonçado que você achava bonitinho. Levou o brilho no olhar que agora nem encara mais ninguém.

No dia que o amor se foi, rasgou fotos e cartas. Quebrou as primeiras coisas que apareceram no seu caminho. Bateu a porta na minha cara.

O amor se foi exigindo aquele lance de divisão de bens. Você deixou um pouco do seu otimismo e levou um pouco da minha compaixão. Você ficou com algumas palavras que eu costumava dizer, eu fiquei com algumas expressões faciais que te caracterizavam tão bem.

Quem me vê por aí, vez em quando, nem sabe que a face que eu uso é tua. Que aquele sorriso era teu. Quem te vê falando bonito, também nem desconfia que aquela frase de efeito - que você tanto gosta de usar - fui eu quem te disse, ou que aquela palavra bonita - que você não cansa de dizer - fui eu que te apresentei.


Você levou alguns sentimentos bonitos meus, também. Levou as borboletas do meu estômago. Transformou o friozinho da minha barriga em frieza. Transformou minha excitação em indiferença. Você levou um pouco de mim nos seus bolsos, na sua mente, dentro daquela sua mochila que você levava nas viagens que nunca me levou. Você simplesmente saiu por aquela porta e levou parte de mim junto.
No dia que o amor se foi deixou a casa vazia. Deixou marcas no piso, nas paredes, em mim. No dia que o amor se foi, nem a empregada quis limpar o estragou que ele fez. No dia que o amor se foi, até o porteiro ficou com pena. No dia que o amor se foi, eu fiquei.








quarta-feira, 2 de abril de 2014

Re-amar.




Se eu cair, cê me segura amor? Me segura. Eu to com medo. 
A gente diz muita bobagem quando tá bravo, eu sei. A gente diz e faz coisas que nem devia. Bate porta, grita, fala demais. E depois dói. A gente tem tanto, amor. A gente é tão bonito junto, você vê? Será que você também percebe? A gente é engraçado. Tem umas manias de casal velho, de saber o que o outro vai fazer e ficar rindo antecipadamente. A gente tem uma química tão legal. Mas tem horas, que sei lá. Sei lá. Dá vontade de sair por aí, mandar você a merda. Fazer umas loucuras. Tô fraca, amor. Acho que todo amor deveria dar uma carga extra de força na gente, sabe? Tipo um super poder. Devia sim. É que as vezes amar é tão difícil. Amar exige da gente coisas que eu nem sabia que existiam. Dá vontade de chutar tudo pro alto, meter o pé na barraca. Dá um aperto no coração. Meu coração tá do tamanho de um grão de arroz hoje, amor. Chorei a noite toda. Será que todo amor tem que ser assim? Eu sei que não existe manual de instruções, nem fórmula mágica. Eu sei. É que amar é uma canseira danada. Meu coração tá um caos. Minha saúde tá fraca. Eu nem sei se eu aguento. As vezes me pergunto se o amor vale mesmo a pena. Se não é só mais uma das nossas fraquezas humanas, nosso medo de viver sozinho. Nosso medo de não ser ninguém. Necessidade de ser alguém, pra outro alguém. Sei lá. É que quando eu penso em ser feliz, eu penso em você. Na gente junto, rindo. Isso só pode ser amor. Quando eu penso em tristeza, eu quero seu abraço. Esses braços enormes que acabam me estrangulando e eu tenho que pedir pra você diminuir a força, pra eu respirar. E vale a pena. Quando eu consigo te surpreender com cócegas e você dá um pulo de susto, rindo. Vale a pena, sim. Eu não sei se qualquer amor vale a pena, mas o seu vale. Mesmo que eu brigue com você por bobagens e você acabe gritando. E você me magoe por falar sem pensar. Mesmo que as vezes nossos corpos pareçam que não tão encaixando ou que nossos atos pareçam todos feitos pra irritar um ao outro. A gente se ama. Se eu cair, cê me segura? Eu te seguro. Pro resto da vida, eu te seguro. Mas eu preciso sentir que você não quer cair, cê entende? Eu não sei se amor é mesmo aquele negócio que dizem por aí, eu nem sei mesmo se amor existe. Quem é que sabe? Eu só sei que a vida é melhor, com você. E mesmo tendo todos os defeitos do mundo, você ainda é melhor do que qualquer um. Então, só me promete que não vai desistir. Mesmo que existam noites de incerteza e dias difíceis. A uns dias atrás, sonhei que me perdia a noite, que não enxergava nada além dos meus pés e de repente você aparecia, dizendo que tinha passado a noite inteira me procurando. E junto com você, eu enxergava muito melhor. Acordei e me toquei do quanto aquilo fazia sentido. Eu acho que amor é isso. É enxergar melhor, é ir mais longe. 
Eu te seguro, eu prometo. Eu solto do mundo e seguro sua mão.