sábado, 27 de dezembro de 2014

Let it be.



Qual é o preço que a gente paga por amar errado? A gente pagou caro, menino. Foram muitas parcelas. E juros e correções monetárias. A gente se perdeu nas prestações de um amor que nem valia tudo aquilo. A gente pôs a leilão o que não tinha preço. E nos perdemos, fim. Foi isso, sem grandes alardes. Sinto que duramos o quanto podíamos, o quanto nosso amor aguentou. Queria que você soubesse que não foi por mal, que nunca quis te machucar. Nem magoar, nem sofrer. Eu nunca quis nada disso. Mas eu não sabia amar, nem você. A gente apostou todas as fichas sem saber no que apostava. Acontece, né? Acho que sim. 
Acho que ninguém nasce sabendo amar. 
Mesmo assim, eu penso em você. Como um pulo errado, na vida certa. Aprendizado. Você sempre vai ser o primeiro. E todos os outros sempre vão ser comparados a você. Acho que era isso que a gente queria. A gente sempre soube que não seria pra sempre, mas queríamos o eterno. A gente conseguiu. Eternizou. Na vida, na memória, nas promessas loucas de um amor sem futuro. Nas páginas viradas da história da nossa vida. Eu assinei teu livro, você assinou o meu. Se todo amor é mesmo inesquecível, eu não sei. Assim como não sei uma porção de outras coisas. Mas quase sempre penso em você, nas nossas juras desesperadas de um amor que nem sabíamos como manter. Eu me lembro de você, quando passo pela rodoviária. E na minha (nossa) primeira vez no escuro. 
Eu me lembro de você. Queria que soubesse. 
Nem sei se faz diferença. E não sinto raiva, nem saudade. Qual é o preço que a gente paga por acreditar no "pra sempre"? É caro, a gente sabe bem. Depois de você, eu aprendi a dar valor ao meu valor. Nunca mais ouvi aquele cd que você gostava tanto. Nem comprei mais batatas naquele restaurante que já era nosso, de tanto que íamos lá. Eu nunca mais te amei, nem chorei pensando em nós dois. Mas eu me lembro, tá? Eu me lembro sim. Do teu choro e do teu medo de não ser suficiente pra mim. E pro mundo. Eu sei teus medos, ainda. E conheço teu sorriso nas tuas fotos no meio daquela gente estranha. Você ainda é um pouquinho meu. Sou um pouco tua, também. Somos eternos. Don't be afraid.

Por isso nos deixamos, por isso precisávamos ir. 
Let it be. Let it go.









quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Pro amor que fica.

Ler ouvindo História de Amor.


Querido E,
É sempre bom falar com você, por isso te escrevo. Queria te dizer muitas coisas, dessas que a gente lê em livros de auto ajuda e nos fazem crer que os problemas não existem. Mas infelizmente os problemas existem. E você existe também, sorte minha. E nós existimos um pro outro, com tanta verdade que chega a me assustar. Eu não costumo ser tão franca, nem olhar nos olhos dos outros com tanta frequência. Eu não amo tanto assim. Mas você me faz sentir e ser e querer coisas que normalmente não sinto. Espero que saiba. E se não souber, eu te digo. É que ontem, quando me disse que preciso me intrometer mais na sua vida, foi uma das suas declarações de amor mais bonitas (e olha que foram muitas). "Você tem carta branca, sabe disso". Vou me meter então. Quero que leia cada uma das minhas frases e siga todas elas a risca. Primeiro, meu amor: não tenha medo. Da vida, do mundo, da ruindade das pessoas e nem da bondade delas. Não tenha medo de Deus, nem do inferno. Não tenha medo de ser quem você é. E acredite em mim, ser quem você é uma das maiores dádivas que você pode ser, porque você é incrível. E não duvide disso. Não tenha medo de ter esse um milhão de amigos que você tem, mesmo que eles te magoem as vezes. Mas desconfie, as vezes. Porque apesar do teu coração não ser capaz de ferir uma barata (Obrigada por ter matado aquela que veio na minha direção), algumas pessoas não se importam. E não importa o que a gente diga ou faça, elas simplesmente não se importam. Não vou pedir pra que você não se importe, porque eu sei que será inútil. Você está certíssimo quanto ao amor: ele é uma ramificação da liberdade. Não perca esse pensamento, nunca. Não amarre seus braços, porque eles abraçam o mundo (e me abraçam, também). Não tente ser normal e agir como a multidão, porque: você não é "os outros". Você nunca vai ser "os outros". E se não for pedir muito: fica. Fica mais. Fica perto. Com você por perto, eu me sinto mais perto de mim. Você sabe como é ótimo ter alguém com quem não precisamos medir as palavras, nem o amor. Eu queria que você se enxergasse uns segundos com meus olhos e visse o quanto você é humano e único e amazing. So amazing. Você é sol, nos meus dias de chuva. Não se perde. Não se perde de mim. E não perde também essa mania feia de mexer no cabelo enquanto fala e não ter medo de rir das minhas caras e bocas. Promete pra mim? Promete que nunca vai deixar de rir. Ontem eu dormi feliz. Eu dormi pedindo pra Deus e o mundo não te machucarem. Eu sou uma tempestade, eu não posso imaginar o vidro do meu copo d'água quebrado. Eu preciso desaguar em você. E sim, eu te seguro também. E seguro a barra que é gostar de você (Hiê didididiê). E mesmo que o mundo não te entenda ou você mesmo não consiga se entender, você construiu em mim um lugar pra ficar. 
Se precisar, fica. 
Tem tapete colorido e amendoim. 
Tem até rima ruim.
Tem a mim. 
Sempre.









quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Sobre a música chata no carro e ela.

Ler ouvindo A thousand years.


She's not crying anymore.
A música brega ecoava no carro, enquanto a voz dela se misturava com a do cantor que eu nunca tinha ouvido na vida. "Canta comigo, she's not crying anymore, she ain't lonely any longer". Ela ria, como se contasse uma piada. Ela sabe como eu odeio essas músicas que ela insiste em ouvir e cantar alto e rir. Mas aí eu olho pra rindo e penso que: She's not crying anymore. Nunca mais. Porque ela fica tão bonita sorrindo que não consigo sentir raiva, nem odiar a música e nem o deboche dela. Ela fica tão bonita. Ela, que de repente invade meu pensamento e se instala feito aqueles vírus no computador. Aqueles vírus rasteiros que a gente tenta se livrar, mas não consegue. Ela, que com certeza riria dessa minha frase dizendo que sou um nerd do pior tipo. Ela, que as vezes deita do meu lado e diz que tá cansada de mim e tudo que eu quero é ser o descanso dela pras dores do mundo. Tudo que eu quero é ver aqueles olhos dos versos do Machado de Assis não indo embora. 
[...] Fica, menina. Mesmo que eu seja um porre e não saiba cantar as suas músicas. Mesmo que pareça que eu não sou o cara certo e tenho quase certeza que não sou mesmo, mas também nem acho que você acredite nisso.

Ela é certinha. Em tudo. Tem aquela voz mansinha que pode me dizer qualquer coisa sem me ferir e aquele olhar que me afunda no sofá. Ela tem o comprimento dos braços que encaixa perfeitamente em volta do meu pescoço e tem as piores ideias pro fim de semana. 

[...] Fica, menina. Nos meus braços, no meu travesseiro, sentada insistentemente no banco de motorista do meu carro e na minha vida. Fica. Eu queria te prometer que não vou te fazer chorar, mas eu não posso porque seria mentira e não me permito mentir pra você. Nós dois vamos chorar e vamos pensar em desistir, mas eu vou ficar. Então fica. 
Nem tem mais ninguém pra quem eu pensaria em dizer esse monte de pensamentos frouxos. Só pra ela. Ela, que de repente faz bico do tamanho do mundo e o céu fica cinza, os pássaros não cantam e a vida não brilha mais. E ninguém entende. Eu fico perdido tentando entender o que o mundo fez pra ela sofrer assim. E daqui a pouco ela já está rindo, como se o mundo fosse acabar. Porque ela é assim mesmo, é toda inteira e intensa. As sensações e sentimentos levam ela pra onde querem e ela vai. Foi assim que ela veio, e ficou. Eu vou ser repetitivo, porque realmente não imagino a vida sem os cabelos dela meio lisos, meio enrolados enrolados no meu travesseiro. Eu prometo que não desisto. Mesmo quando for tudo um saco e eu não lembre quais foram os motivos pelos quais escrevi esse texto brega.
[...] Eu não desisto de dançar com você, mesmo que ninguém mais ouça a nossa música. E até canto junto. She's not crying anymore. Fica, por favor?